Qualidade de vida e satisfação com a vida : Um estudo com adultos mais velhos a frequentar centro de dia

Abstract

Contexto e objetivo: O envelhecimento é um dos grandes desafios societais do seculo XXI, cada vez mais à escala mundial um número cada vez maior de pessoas vive mais anos (Rosa, 2020). Garantir a Qualidade de Vida e Bem-estar para a população é uma das metas a atingir nesta década (OMS, 2020). A Qualidade de Vida é definida pela OMS (1994) como a perceção que o indivíduo tem acerca da sua vida, tendo em conta o contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais se insere e considerando os seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Diener (2000) refere que a Satisfação com a Vida é uma apreciação cognitiva da vida, através de um juízo subjetivo, de acordo com o padrão estabelecido pelo sujeito. Compreende-se que uma pessoa possui um elevado bem-estar subjetivo quando está satisfeita com a vida e vive de maneira positiva. Segundo Ryff et al (2021), a investigação demonstra que os indivíduos à medida que envelhecem tendem a priorizar emoções positivas relativamente às negativas (fenómeno da positividade). Sendo o Centro de Dia uma resposta social, desenvolvida em equipamento, que visa a manutenção da pessoa idosa no seu meio sociofamiliar, observa-se que a investigação é escassa neste domínio (Orellana et al, 2020). No presente estudo objetiva-se analisar as relações entre Qualidade de Vida e Satisfação com a Vida em adultos mais velhos frequentadores da resposta social Centro de Dia. Método: Este estudo faz parte integrante do projeto CD.Living, é um estudo de natureza quantitativa, transversal e descritivo-correlacional que conta com a participação de 108 pessoas com 65 ou mais anos, frequentadores da resposta social Centro de Dia. Na recolha de dados usou-se: questionário sociodemográfico; versão portuguesa do o Índice de Lawton (AIVD; Araújo et al, 2008); versão portuguesa da WHOQOL-BREF (Canavarro et al, 2010); versão portuguesa da escala de satisfação com a vida (Neto et al, 1990). Resultados: A recolha de dados foi realizada junto dos adultos mais velhas que frequentam os Centros de Dia da região norte de Portugal. Os resultados evidenciam que os 108 participantes são maioritariamente mulheres (70,4%), com média de idades de 80,0 anos (DP = 7,57; Min= 65; Max= 96), predominantemente viúvas (54,6%), escolaridade reduzida (61,1%), dificuldade em assegurar despesas (75,9%). Na qualidade de vida geral os participantes obtiveram uma pontuação média de 49,3 (DP=20,9), traduzindo-se num nível baixo de qualidade de vida. Nos domínios da escala WHOQOL-Bref o valor médio mais baixo é nas relações sociais 47,6 (DP=16,4) e valor médio mais alto é do ambiente 53,2 (DP=16,1). Há diferenças estatisticamente significativas entre Qualidade de Vida em função escolaridade em três domínios, no domínio qualidade de vida geral (U= 712; p = 0,002), no domínio psicológico (U= 766,5; p = 0,008) e no domínio ambiente (U= 852, 5; p = 0,042). Também há diferenças estatisticamente significativas entre Qualidade de vida e estado civil em três domínios, no domínio psicológico (χ 2(2) = 7,289; p = 0,026), no domínio das relações sociais (χ 2(2) = 8,904; p = 0,012) e no domínio do ambiente (χ 2(2) = 6,502; p = 0,039). A Qualidade de Vida em função dos rendimentos apresenta diferenças estatisticamente significativas nos domínios psicológico ( t (8)5 = - 2,728; p=0,008) e ambiente ( t (85) = - 2,015; p=0,047).A análise das relações entre variáveis, demonstrou associações positivas e significativas, fracas a moderadas (Bryman & Cramer, 2003) entre satisfação com a vida e qualidade de vida geral (r= 0,422; p=0.01), bem como entre satisfação com a vida e domínios específicos da qualidade de vida- físico (r= 0,224; p=0.05), psicológico (r= 0,605; p=0.01), relações sociais (r= 0,524; p=0.01), ambiente (r= 0,538; p=0.01). Conclusão: Considerando que qualidade de vida e a satisfação com a vida estão associados e sendo estes “outcomes” do envelhecimento ativo e saudável, conclui-se que na prática gerontológica é de considerar estes aspetos no desenho e implementação de programas nesta resposta social.

Context and objective: Aging is one of the great societal challenges of the 21st century, as more and more people worldwide are living longer (Rosa, 2020). Ensuring quality of life and well-being for the population is one of the goals to be achieved in this decade (WHO, 2020). Quality of life is defined by the WHO (1994) as an individual's perception of his or her life, taking into account the context of the culture and value systems in which they live and considering their objectives, expectations, standards, and concerns. Diener (2000) states that life satisfaction is a cognitive appreciation of life, through subjective judgment, according to the standard set by the subject. A person is understood to have high subjective well-being when he or she is satisfied with life and lives in a positive way. According to Ryff et al (2021), research shows that individuals as they age tend to prioritize positive emotions over negative ones (positivity phenomenon). As the day center is a social response, developed in equipment, which aims to maintain the elderly in their social and family environment, it is observed that research is scarce in this field (Orellana et al, 2020). This study aims to analyze the relationship between quality of life and life satisfaction/well-being in older adults who attend the day-care center. Method: this study forms an integral part of the CD.Living project, it is a quantitative, cross-sectional, descriptive-correlational study that includes the participation of 108 people aged 65 or over who frequent the Centro de Dia social response. Data were collected using: sociodemographic form; Portuguese version of the Lawton Index (AIVD; Araújo et al, 2008); Portuguese version of the WHOQOL-BREF (Canavarro et al, 2010); Portuguese version of the life satisfaction scale (Neto et al, 1990). Results: Data were collected from older adults attending day care centers in the northern region of Portugal. The results show that the 108 participants are mostly women (70.4%), with a mean age of 80.0 years (DP = 7.57; Min= 65; Max= 96), predominantly widows (54.6%), low education (61.1%), difficulty in ensuring expenses (75.9%). In general quality of life, the participants obtained a mean score of 49.3 (DP=20.9), translating into a low level of quality of life. In the domains of the WHOQOL-Bref scale the lowest mean value is in social relationships 47.6 (DP=16.4) and highest mean value is environment 53.2 (DP=16.1). There are statistically significant differences between Quality of Life and education in three domains, in general quality of life domain (U= 712; p = 0.002), psychological domain (U= 766.5; p = 0.008) and environment domain (U= 852, 5; p = 0.042). There are also statistically significant differences between Quality of life and marital status in three domains, in the psychological domain (χ 2(2) = 7.289; p = 0.026), the social relations domain (χ 2(2) = 8.904; p = 0.012) and the environment domain (χ 2(2) = 6.502; p = 0.039). Quality of Life as a function of income presents a statistically significant difference in the psychological ( t (85) = - 2.728; p=0.008) and environment ( t (85) = - 2.015; p=0.047) domains. Analysis of the relationships between variables, demonstrated positive and significant weak to moderate associations (Bryman & Cramer, 2003) between life satisfaction and overall quality of life (r= 0.422; p=0.01), as well as between life satisfaction and specific domains of quality of life- physical (r= 0.224; p=0.05), psychological (r= 0.605; p=0.01), social relationships (r= 0.524; p=0.01), environment (r= 0.538; p=0.01). Conclusion: Considering that quality of life and satisfacion are assocwith life iated and that these are the "outcomes" of active and healthy aging, we conclude that in gerontological practice these aspects must be considered in the design and implementation of programs in social responses, namely in Day Care Centers.