Políticas curriculares na relação com políticas de formação inicial de professores em Portugal

Abstract

Reconhecendo que os cursos de formação inicial de professores devem assegurar condições que preparem os estudantes/futuros professores para serem decisores curriculares, o artigo traz à reflexão e ao debate enunciados discursivos de políticas curriculares para os ensinos básico e secundário, em Portugal, estabelecendo relações com políticas e percepções de estudantes relativas a essa formação. O estudo realizado responde às perguntas: Para que perfil de professor apontam os enunciados discursivos das políticas curriculares dos ensinos básico e secundário? Para onde apontam os enunciados discursivos de políticas de organização dos currículos de formação inicial de professores? Que percepções têm estudantes/futuros professores da formação que estão a vivenciar? E da sua ação como agentes de decisão curricular? A recolha de dados foi feita por análise de discursos políticos e por inquéritos, por questionário, a estudantes finalistas de mestrados que habilitam para a docência. Os resultados mostraram que os enunciados discursivos das políticas curriculares apontam para que os professores sejam agentes de decisão curricular e que a formação os capacite para o uso do poder de agência. Em consonância com discursos académicos, é enunciada uma conceção de educação alicerçada em princípios de responsabilidade social. Apesar desta orientação discursiva, a formação inicial de professores privilegia questões de ordem didática, oferecendo poucas condições para a valorização de aspetos relacionados com a função social da educação. Neste sentido, o estudo permite interrogar condições existentes para uma socialização ampla com as funções inerentes ao exercício da profissão docente e para uma formação em linha com uma educação transformadora. ABSTRACT: Recognizing that initial teacher training courses must ensure conditions that prepare students/future teachers to be curriculum decision-makers, the article brings to reflection and debate discursive statements of curricular policies for primary and secondary education in Portugal, establishing relationships with policies and student perceptions regarding this training. The study answers the following questions: What teacher profile do the discursive statements of primary and secondary school curriculum policies point towards? Where do the discursive statements of policies for organizing initial teacher training curricula point? What perceptions do students/future teachers have of the training they are experiencing? And of their actions as curriculum decision-makers? Data was collected by analyzing political speeches and questionnaire surveys of final-year students with master's degrees that qualify them to teach. The results showed that the discursive statements of curricular policies point to teachers being agents of curricular decision-making and that training enables them to use the power of agency. In line with academic discourses, a concept of education based on principles of social responsibility is enunciated. Despite this discursive orientation, initial teacher training favors didactic issues and offers few conditions for valuing aspects related to the social function of education. In this sense, the study makes it possible to question the existing conditions for broad socialization with the functions inherent in the teaching profession and for training in line with transformative education.